Como fazer a vontade de Deus neste mundo?

09/03/2013 07:47

 

 

3ª Semana da Quaresma

 

Primeira leitura (Oséias 6,1-6)

 

Leitura da Profecia de Oseias.

1“Vinde, voltemos para o Senhor, ele nos feriu e há de tratar-nos, ele nos machucou e há de curar-nos. 2Em dois dias, nos dará vida, e, ao terceiro dia, há de restaurar-nos, e viveremos em sua presença. 3É preciso saber segui-lo para reconhecer o Senhor. Certa como a aurora é a sua vinda, ele virá até nós como as primeiras chuvas, como as chuvas tardias que regam o solo”. 

4Como vou tratar-te, Efraim? Como vou tratar-te, Judá? O vosso amor é como nuvem pela manhã, como orvalho que cedo se desfaz. 5Eu os desbastei por meio dos profetas, arrasei-os com as palavras de minha boca, mas, como luz, expandem-se meus juízos;6quero amor, e não sacrifícios, conhecimento de Deus, mais do que holocaustos. 

- Palavra do Senhor. 
- Graças a Deus.

 

Salmo (Salmos 50)

 

— Eu quis misericórdia e não o sacrifício!
— Eu quis misericórdia e não o sacrifício!

— Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! Na imensidão de vosso amor, purificai-me! Lavai-me todo inteiro do pecado, e apagai completamente a minha culpa!

— Pois não são de vosso agrado os sacrifícios, e, se oferto um holo­causto, o rejeitais. Meu sacrifício é minha alma penitente, não despre­zeis um coração arrependido!

— Sede benigno com Sião, por vossa graça, reconstruí Jerusalém e os seus muros! E aceitareis o verdadeiro sacrifício, os holocaustos e oblações em vosso altar!

 

Evangelho (Lucas 18,9-14)

 

— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo, 9Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros: 10“Dois homens subiram ao Templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos. 11O fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. 12Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’. 

13O cobrador de impostos, porém, ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!’

14Eu vos digo: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”. 

- Palavra da Salvação. 
- Glória a vós, Senhor.

 

Homilia

 

Nesta parábola, temos a oposição radical entre dois orantes e dois tipos de oração: a oração arrogante e autossuficiente do fariseu e a oração confiante e humilde do publicano. A oração do fariseu é típica das tradicionais orações de Israel. Aparentemente, é uma oração de agradecimento a Deus. Contudo, por seu conteúdo, adquire outro sentido.

 

O fariseu “agradece” por ser um justo, observante, diferenciado e separado dos “pecadores” como o publicano que ali estava presente.

 

O fariseu coloca-se diante de Deus numa atitude de senhor e não de servo. Faz negócio com Deus: “Eu te dou as minhas boas obras e Tu és obrigado a dar-me a salvação eterna”. Toma uma posição de igualdade com Deus, na medida em que se sente com direitos diante d’Ele.

 

O fariseu colocou-se como ponto de referência em relação ao pecador e ao próprio Deus na condição de superioridade em relação ao pecador, e na de quase igualdade perante Deus.

 

Sua oração é uma oração de autossuficiência e de desprezo aos outros, que, em nome de Deus, fundamenta uma posição de privilégios e poder.

 

O outro orante, o publicano, tem a atitude de um pobre que confia totalmente em Deus. Ele, humilhado e excluído pelo sistema religioso que o considera um pecador, é consciente de sua pequenez e de sua dependência de Deus. À medida que o “justo” rompe a comunhão com o próximo, ele rompe a comunhão com Deus.

 

O pecador relaciona-se apenas com Deus e não se mete na vida do vizinho.

 

O pecador, pelo contrário, pensa e pensa bem. Pois ele nada tem para dar em troca a Deus e que não tem quaisquer direitos a reclamar d’Ele. De seu tem apenas o pecado e d’Ele espera apenas o perdão. A parábola não é, pois, sobre a oração, mas sobre a justificação diante de Deus e pretende responder à eterna pergunta: “Como fazer a vontade de Deus neste mundo?” Cada um dos personagens apresenta-nos a sua resposta e a sua atitude de vida.

 

O pecador se salva, torna-se justo diante de Deus, não pelas obras humanas, pelo seu esforço no cumprimento de determinados preceitos, mas pela graça de Deus; ou seja, só pelo poder de Deus é que o homem é salvo, e não pelo que é ou faz. Acolher Jesus e a sua Palavra numa fé confiante, é o único caminho da salvação.

 

Alguém perguntará: “Então, as nossas boas obras nada valem diante de Deus?” O problema não deve ser colocado desse modo. Aqui não se trata de um problema de conteúdo, isto é, de obras, mas da perspectiva com que se fazem as obras. Expliquemos: o fariseu não foi condenado pelas boas obras que praticou, mas por confiar apenas nelas e nas suas próprias forças para fazê-las. Foi condenado por não as atribuir a Deus nem as relacionar com Ele.

 

A lição que devemos tirar deste texto é: o cristão deve estar atento para não abrir a porta à tentação da soberba perante o outro homem e da autojustificação perante Deus. Pelo contrário, optará por uma atitude de caridade e grande compreensão em relação às outras pessoas como sempre fez Jesus e por um esvaziamento de si, para que Deus o encha do seu perdão e da sua misericórdia.

 

Padre Bantu Mendonça

 

Fonte: Canção Nova.